10/03/2008

Escandinávia 1968


Em 1968 fui com meus pais de carro para a Escandinávia.

Fizemos Dinamarca, Suécia e Noruega.

Em Oslo ficamos no Grand Hotel. Era uma semana especial: Semana da Carne de Caça. Não tenho a menor idéia do que eu comi. O menu era em Norueguês, lógico. Eu falo um pouquinho de alemão, o bastante para ler menus, perguntar preço e falar "por favor", "muito obrigado", etc.
Com essa tintura de alemão, eu consigo ter uma boa idéia do que estão oferecendo nos restaurantes de Escandinávia e da Holanda. Mas meu vocabulário não inclui carnes de caça. Perguntamos ao Maitre o que eram os pratos mas o sotaque e a tradução para o inglês não nos ajudou nada. Sei que comi uma carne de algum bicho e que era saborosa. Podia ser carne de rato, não sei até hoje.

Foi no Grand Hotel que mamãe olhou um grupo de pessoas e disse: "Que homem parecido com o Cyro Alcântara". Era o próprio que tinha ido nos encontrar para contar que a Diretoria do Banco do Commercio e Industria de São Paulo estava se apropriando das ações do Banco em poder das subsidiárias do Banco, para tomar o controle. Foi lá que começou o movimento de acionistas que terminou com a venda em 1978, de quase um terço das ações do Comércio Industria para o Gastãozinho Vidigal e a conseqüente quebra do Banco.

Duas coisas mais me marcaram nesta visita a Oslo. A primeira, era o fato do rei, cujo palácio era em frente do hotel, passear todo dia pela praça em frente e cumprimentar as pessoas que ia encontrando. E sem nenhum segurança visível. Isso para um adolescente do Brasil de 1968 (Era Costa e Silva), era um paraíso.

A segunda coisa foi a grossura dos suéters de lã. Eram muito bonitos, com desenhos, e eu não resisti e comprei um. Nunca consegui usar. Era muito pesado e muito quente. Próprio para passear no Ártico no inverno.

Da Noruega fomos para a Suécia, ou vice-versa. Em Gotenborg, na Suécia, ficamos o dia todo no hotel assistindo a única coisa que conseguimos achar na televisão local: um programa educativo sobre procriação humana, com desenhinhos, e em branco e preto. Isso e mais o "ritmo" do suéco falado, foi a coisa mais soporífica que eu já vi na televisão de qualquer país em que estive.

De Gotenborg fomos o Jonkoping (ou qualquer coisa assim). Como chegamos num domingo, não tinha ninguém trabalhando no hotel, nem para fazer cama, ou carregar malas, ou abrir a porta. Afinal, domingo não se trabalha.

Em Estocolmo, papai começou a sentir um dor terrível, que ele localizava nas costas e na nuca. Teimoso como ele era, não quis ver nenhum médico e assim seguimos nossa viagem pela Dinamarca, Alemanha, Suíça e França, com papai gemendo de dor, passando o dia na banheira com água quente mas não trocando nenhum trecho da viagem e não querendo ver nenhum médico.

Quando chegamos em Paris, demos um ultimato. Ligamos para a Christianne Lacerda Soares, que nos deu o telefone do médico que atendia a ela. Do consultório, fomos diretamente para American Hospital em Neully. Papai foi internado, colocou a camisola do hospital e começaram a tirar pressão, temperatura, etc. Só que a temperatura, na França e tomada via retal. Dois minutos depois papai expeliu um cálculo renal imenso. Isso, uma pedrona. Até hoje acho que foi com o susto que o papai levou com a tomada da temperatura que ele expeliu a pedra. Ele passou a noite no hospital para observação, mas já se sentindo ótimo, morrendo de fome. No dia seguinte ele começou finalmente a proveitar a viagem.

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