
É a segunda vez que assisto South Pacific no teatro. A primeira vez foi em Londres, numa montagem maravilhosa.
Eu já conhecia as músicas e a história através do filme de 1958 com Rossano Brazzi e Mitzi Gaynor.
Essa montagem atual da Broadway é muito boa, com o papel que no cinema foi de Brazzi sendo feito por um brasileiro, Paulo Szot. Originário dos palcos de ópera, Szot fez um Emile de Becque excelente. Alto, bonitão e com uma voz excepcional, para mim Szot fez o de Becque definitivo.
Kelli O'Hara, que faz Nelli também está ótima.
Na montagem de Londres e no filme, não fica muito claro porque Nellie, a enfermeira americana, recusa o pedido de casamento de Emile quando descobre que ele tem dois filhos de um primeiro relacionamento.
Na montagem atual fica bem claro que a razão é o preconceito racial que foi internalizado por ela na Middle America desde menina.
Nos anos cinquenta a mistura de raças era crime em muitos estados americanos. Em 2008, depois de todas as vitórias do movimento de direitos civis, o presidente eleito americano é filho de um africano e uma branca americana. A peça pode de novo refletir os preconceitos do passado.
Sentamos no balcão, depois de subir uma escadaria e lá em cima, bem na entrada, encontrar um senhor tendo um ataque cardíaco e recebendo respiração artificial. Eu subi na frente, passei pelo senhor e entrei no teatro. Clarissa, que vinha atrás, viu apenas as pernas do senhor e gelou, pensando que era eu. De qualquer forma foi muito estranho sentar no teatro para nos divertir enquanto tinha um senhor que poderia estar morrendo a dois passos de nós. Felizmente o senhor foi atendido a tempo e foi levado com vida para o Pronto Socorro. Coisas de cidade grande.