4/03/2009

Meu amigo José Mantilla

Eu tenho um amigo equatoriano que vive na Flórida, com quem eu gosto de trocar idéias mas sem a freqüência que nós dois gostaríamos.

Hoje eu recebi um comentário dele sobre o post "E agora os bancos".

Aqui vai minha resposta.

José, o Blog "Me Lembro" foi criado como uma sala de visita para meus amigos e todos aqueles que se interessem pelos assuntos que eu trato aqui.

Não tem nenhuma pretensão de ser algo maior como meus posts não têm maior pesquisa, pelo menos bibliográfica.

É como se eu estivesse sentado com vocês e, tendo acabado a leitura dos jornais, começasse a comentar as notícias.

Ou, como se no final da tarde, tomando um drink, começasse a me lembrar de fatos da minha infância e quisesse comentar com vocês como era a cidade de São Paulo da minha infância.

Nada mais.

Desta forma, tendo colocado o meu objetivo de forma mais clara, quero agradecer a você pela comentário que fez no meu blog.

Não vou comentar agora porque quero ler o seu comentário mais uma vez para poder comentá-lo sem esquecer de nenhuma colocação que você fez.

Vou publicar abaixo o seu texto, que pode ter passado desapercebido pelos meus outros amigos, para que ninguém fique perdido no nosso bate-papo.

Um grande abraço,


Anônimo jose mantilla disse...

Adolpho,
Faz uns dias achei o seu blog e agora terei um espaço para bater um bom “papo” com você y resolver os problemas do mundo. Só vai faltar a cervejinha e a comida.
Em quanto à sua análise da situação dos bancos a continuação vai os meus comentários:
A fusão dos bancos e o seu gigantismo na verdade tem muito mais beneficio que problema. Permitir aos bancos operarem em todo o pais foi o maior acerto da política em muitos anos já que criou uma industria muito mais inovadora e competitiva e permitiu o crescimento do credito a baixo custo que a sua vez foi o motor da economia nos últimos vinte anos.

Essa concorrência, com os benéficos tão grandes para a economia também levou as fusões e bancos gigantes. Ainda assim os Estados Unidos e dos países que mais bancos pequenos tem, e sempre há um banco pequeno próximo as pessoas. No meu próprio caso, a minha primeira hipoteca (americana) foi com um banco pequeno da cidade (duas agencias) quando nenhum dos bancos grandes aceitava a minha declaração de renda do Equador. Claro eles ficaram com a minha hipoteca por nove dias, vendendo-a a um dos grandes que semanas antes tinha negado o credito.

O problema do gigantismo e que os bancos geralmente precisam poder crescer por cima dos seus problemas, quando são muito grandes o crescimento e muito lento e os problemas não se encolhem como deveriam.
Terceiro: a desregulamentação do setor bancário em si também tem sido de muito benefício, o problema foi a completa ausência de um regulador do mercado de capitais. O SEC como regulador deveria passar aos anais da historia por sua incompetência. Mais, disso pouco se fala.

Na minha opinião, a crise realmente foi um problema de política monetária e do dólar como moeda de “reserva”.
Como antecedente lembremos que a apertura comercial levou ao crescimento espetacular dos “BRICS” particularmente a china. Com excedentes comercias imensos estes países (alem do Japão e muitos outros) depositaram as suas reservas em dólares. Isto em um momento em que os EUA tinham triple déficit (comercial, fiscal, conta corrente). Normalmente uns países com esses déficits teriam sido forcado a desvalorizar a moeda mais como o dólar e moeda de reserva exatamente o contrario aconteceu – o dinheiro entrava sem parar. Quanto mais gastava os EUA mais dinheiro tinham “os chineses”, que logo compravam mais dólares.

Paralelamente os produtos chineses entravam abaratando tudo, então não havia inflação. Muito dinheiro entrava, trás poucos bens, mais não havia inflação. O “conundrum” do Greenspan. Como não havia inflação o FED não achou nada melhor que baixar os juros e incrementar a criação de dinheiro. Claro o tesouro também ajudava incrementando os gastos.
Que teria acontecido no Brasil si paralelo aos gastos do Lula o Mierelles tivesse baixado os juros e a inflação não tivesse crescido uma apertura absoluta da economia?

Nos EUA a inflação virou a outros ativos, casas e ações. Mais o “asset inflation” não faz parte dos índices de inflação.

Além do ingresso de dinheiro o mercado de capitais crescia sem regulação. A titularizacao, o securitiazao (securitization) permitia aos bancos de investimento (que não eram regulados pelo fed) comprar carteira hipotecaria dos bancos comercias a preços altíssimos para empacotar e vender ao mercado. O banco comercial precisava ter capital por mais o menos 4 % da sua carteira e alavancagem máxima de 10 a 1. O banco de investimento não precisava capital e sua alavancagem podia ser de ate 100 a 1. Dinheiro fácil para os “masters of the universe” em wall street, compra carteria, empacota e vende obrigações.
Para o banco comercial a tentação era imensa:
1. Se o banco ficasse com a carteira hipotecaria, alem do custo em capital, tinha juros baixos e um ativo a longo prazo pouco liquido. Com uma carteira imaginária de um milhão o banco precisa de 40,000 de capital y vai receber juros por 50,000 ao ano.
2. Se vendia a carteira o banco podia realizar 4 o 5 % flat no momento da venda y voltar a usar o dinheiro para outro empréstimo. O banco do exemplo não era muito bom em colocar credito (não usava corretores de hipotecas) daí que só colocava o seu milhão quatro vezes ao ano. Daí que ganhava 40,000 cada vez para um total de 160,000 ao ano. Alem disso não precisava dos 40,000 em capital e não tinha ativos a longo prazo. Dificilmente um banqueiro ou bancário pudesse resistir pela segunda opção, mias ainda se o banco e cotado em bolsa e os analistas insistem em rentabilidade na media dos outros bancos.
3. O VP de hipotecas do banco pequeno que me deu o meu empréstimo confessou para mim no ano 2003 que ele procurava rotar a sua liquidez em credito hipotecário 15 vezes ao ano. O mesmo banco em qualquer outra parte de mundo ficaria com o credito por 10 anos o mais.
Não e surpresa então que os bancos cada vez usassem mais corretores de hipotecas e sem preparação. Os bancos também não tinham que se preocupar muito da avaliação de risco já que eles vendiam a carteira. Os bancos de investimento não se preocupavam muito da avaliação já que ao empacotar as hipotecas o conjunto “sempre e mais sadio que o individuo, alem que os preços das casas sempre sobem” então a garantia sempre excedia o risco. Não quero dizer que os bancos são inocentes, mais duvido que alguém fizesse algo diferente em circunstâncias similares.

Os bancos comercias faziam o mais lógico vendiam a carteira, os bancos de investimento empacotavam e vendiam obrigações. Mais quem comprava? Fannie Mae y Freddie Mac, que sendo instituições privadas gozavam do risco de governo americano compravam carteira e obrigações. Essas duas instituições não eram bancos e não eram regulados pelo FED. Elas não deveriam existir, pior quando o governo pode fazer política via instituições “privadas”. Quem mais compra? Todos os bancos e investidores do mundo que precisavam aplicar na moeda de reserva.

Todo esse cenário crio a tormenta perfeita...
O consumidor americano compra casa, esta sobe de preço, tira nova hipoteca compra qualquer coisa chinesa. O chinês recebe o seu dinheiro e aplica em dólares. Como tem mais dólares os juros baixam. O banco americano recicla o seu dinheiro e empresta ao consumidor americano a juros mais baixos que tira nova hipoteca e compra qualquer coisa chinesa. O chinês recebe o seu dinheiro e ...
O engraçado e que todos sabiam isso, e achavam ótimo.

Si o dólar não tivesse sido moeda de reserva os chineses não teriam aplicado em dólares e via depreciação o sistema teria corrigido os déficits.

Em conclusão o problema não foram os bancos comercias: foi o tesouro americano que gastava o Fed com uma política monetária que baixava os juros, o dólar como moeda de reserva, o governo americano via Fannie e Freddie Mac que compravam hipotecas, os bancos de investimento que podiam securitizar qualquer coisa sem capital nem regulação.

O interessante e que a solução da crise que o governo americano esta implementando e... Um tesouro americano que gasta, o Fed com uma política monetária que baixa os juros, o dólar como moeda de reserva, o governo americano via Fannie e Freddie Mac que comprava hipotecas. Claro agora os bancos comercias não tem apetite de vender carteira (pelos preços) e já não existem bancos de investimento. Mais o tesouro esta procurando criar “partnerships” em wall street que comprem ativos tóxicos para securitizar.

Deja vu all over again... como dice alguem famoso alguma vez.

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