
Em Paris eles ficaram hospedados no Hotel Cayrée, no 4 Blvd. Raspail, Rive gauche. O proprietário do Hotal, M. Cayrée tinha filhos e uma casa de campo.
Papai brincava com as crianças Cayrée e algumas vezes foi com os Cayrée passar o dia na casa de campo.
Papai voltou em 1930, mais uma vez com a família toda, e de novo ficou no Cayrée.
Com a crise de 29 e a II Guerra Mundial, papai ficou afastado de Paris até 1953, quando veio para cá pela primeira vez com minha mãe. Aqui chegando descobriu que o Hotel Cayrée tinha passado para as mãos dos filhos, seus amigos de infância.
Todos os dias antes do jantar papai e mamãe se sentavam no delicioso bar inglês do hotel para conversar com os Cayrée sobre teatro, que todos eles adoravam.
No hotel estava começando a trabalhar um menino como belboy, o nome dele era Jacques.
Meus pais voltaram em 56 e comigo, meu irmão Juca e nosso grande amigo Anthony John McCulluch (Tony) em 1960.
Desta vez, o Jacquez já era concierge do hotel.
Voltamos ao Cayrée por toda a década de 60 e eu passei a minha lua-de-mel em 1970 com a Margarida lá.
Em 1968, minha prima Norminha assistiu a todo o movimento estudantil da primavera de 68, hospedada no Cayrée, no meio da confusão.
Nós todos ficamos muito tristes com a decadência do Cayrée, que devido ao custo que a sindicalização de seus empregados foi tendo que fechar o restaurante e o bar e simplificar o serviço de quarto.
Na década de 70 as donas comunicaram a meus pais que iriam vender o hotel para uma cadeia de hotéis. Papai ainda tentou ficar hospedado no hotel sob a nova administração mas detestou.O Cayrée então recebia excursões de colombianos, que conseguem ser ainda mais barulhentos e baderneiros que os brasileiros, e a única coisa que restava era o concierge, Jacques, que participou a papai que iria se aposentar.
Toda vez que eu volto a Paris eu vou dar uma espiada no Cayrée. Desta vez eu pedi para a Clarissa tirar uma foto da fachada pois eu não tinha nada para me lembrar dos meses que eu passei hospedado com meus pais no pequeno hotel do Blvd. Raspail.
Papai morreu em setembro de 2005, o Tony morreu por volta de 1993. Dos meus companheiros de Cayrée só sobra a mamãe já com 87 anos de idade.