8/04/2009

Facebook

Eu tive dois vizinhos, irmãos, na rua Itápolis dos quais eu estava sempre me lembrando com muito carinho. Cheguei mesmo a citar os dois em partes da minha memória pois a presença deles em minha vida foi muito boa e as memórias que eu guardei foram as melhores da minha infância.

Mudei da rua Itápolis em 1955 e fui morar no Jardim América.
Enquanto no Pacaembu eu conhecia todos os vizinhos e todos os meus parentes moravam perto, no Jardim América eu nunca fiz amizade com nenhum vizinho e só tinha duas primas que moravam na rua ........

Outra coisa que me marcou foi a mudança de escola. Enquanto no Ofélia Fonseca eu conhecia todas as professoras, me dava bem com os meus colegas e me sentia em casa, no Nsa. Sra. de Lourdes foi o oposto. Não fiz amigos, não gostei dos professores e não guardo nenhuma boa lembrança.

Encontrei esses vizinhos algumas vezes nos quase 40 anos que deixamos de conviver.

Enquanto o caçula parecia contente de me encontrar, o mais velho era de uma frieza marcante. Nunca dei muita importância, achando que era parte da personalidade dele. E sempre fiquei felissíssimo de encontrar os dois.

Hoje eu faço parte do Facebook e vivo procurando pessoas que eu conheço para recomeçar o contacto pois moro nos Estados Unidos desde 1994 e perdi de vista todos os meus amigos.

Outro dia encontrei o nome do mais velho dos irmãos no Facebook e, como fazia sempre, fiquei super contente e mandei o pedido de "friend" para ele. Para minha surpresa, veio uma resposta carregada de mágua aonde o agora senhor se lembrava de ofensas de fundo racista e preconceituoso que eu teria usado na época que éramos vizinhos.

Eu, claro, não me lembrava de nada. Provavelmente era uma coisa que disse, ou dizia, sem pensar e sem saber o que estava dizendo, instigado por uma criança maior ou por alguma babá. Afinal eu não tinha ainda 7 anos quando eu me mudei de lá.

O que me chocou mais foi o fato de que um período que eu lembrava com tanto carinho fosse lembrado por outra pessoa com mágoa e rancor.

Eu pedi desculpas, é claro, e fiquei matutando sobre o assunto. Esses meus amigos eram italianos e tinham acabado de se mudar para o Brasil. Eles eram judeus e eu fico imaginando o que devem ter passado na Europa que levaram seus pais a se mudar para o Brasil. E eu compreendo que deve ter sido extremamente cruel ouvir o que ele ouviu de mim na época. Por uma lado, eu tenho uma tristeza e uma vergonha enorme pelo que eu teria dito quando criança, por outro lado, analisando como adulto, eu compreendo que não era mais que um sadismo infantil, que eu não devo levar em conta.

Mas o meu vizinho não vê da mesma maneira e não há o que eu possa dizer que diminua a gravidade das palavras ditas. Pois, apesar de eu não me lembrar de nada, não acredito que ele fosse guardar tantos anos de rancor se não tivesse acontecido mesmo.

É uma pena. Mas não vou deixar que essa memória dele comece a fazer parte da minhas memórias da infância e com isso possa envenenar o período mais feliz da minha vida.

Eu sinto muito mas não há que eu possa fazer para consertar o mal-feito. Só espero que meu vizinho tendo tirado do peito e me jogado na cara o meu mal-feito de criança possa se sentir melhor e mais aliviado.

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