11/01/2010

Meu desabafo


Me lembro bem dos anos JK (1954-1960). Com toda a construção de Brasília sendo criticada pela oposição, nunca foi acusado de roubo. Podem ter criticado alguma coisa nos contratos das empreiteiras, mas chamar de ladrão, nunca.

Me lembro do Adhemar de Barros, que em uma eleição diziam: "Rouba mas faz." Pobre Dr. Adhemar. A única coisa que provaram contra ele foi alguma vantagem na compra de uns carros para o governo estadual. Isso no primeiro governo. Ele fez o sucessor, Dr. Lucas Nogueira Garcez, homem probo e respeitado por todos. E o Dr. Garcez era tão honesto que, descobrindo que havia sido ganha uma comissão na compra dos tais carros, entregou para o Ministério Público, para que os responsavéis fossem processados na forma da lei. O Dr. Adhemar como governador do período foi obrigado a se refugiar na Bolívia para evitar ser preso. Não sei como acabou o caso, mas impune ninguém ficou.

Me lembro do Jânio, o homem da vasourinha, que prometia varrer a corrupção no município de São Paulo, no Estado de São Paulo e, finalmente, na Presidência da República. Apesar de ter sido o responsável pela ditadura militar que acabou de vez com a moralidade no país, o máximo que fazia era passar alguns meses em Londres. Deve ter se enchido de dinheiro público mas nunca se encontrou prova desses roubos.

Me lembro dos governos militares e da corja ligada ao Costa e Silva.

Mas me lembro também dos castelistas, verdadeiros patriotas e homens honestos.

Me lembro da luta pelas "diretas já" e da esperança que despertou em todos os brasileiros.

Me lembro até da criação do PT, o Partido dos Trabalhadores, fundado por operários, membros dos Sindicatos de Trabalhadores e intelectuais. Votei para os candidatos do PT em todas as eleições que antecederam a primeira vitória do Lula para a Presidência da República.

Mas o que me lembro melhor, foi do Governo Collor de Mello. Viajei no mesmo avião que o irmão dele, o Leopoldo, para Miami. Chegamos ao mesmo tempo na Disney World e ficamos nos mesmo hotel. E assisti de camarote ao jantar em que ele comemorou a vitória com o vendido do Ferreira Neto, que com o dinheiro que recebeu para fazer aquelas perguntas traiçoeiras para o Lula, no debate presidencial na TV Cultura, comprou uma rádio em Miami. Um rádio que, com a sua péssima administração, quebrou alguns anos mais tarde.

E me lembro muito bem do dia em que o Collor confiscou todo o dinheiro do povo brasileiro. Do dia para a noite todos nós tínhamos apenas 50 cruzeiros para gastar. Toda a popiulação foi para os bancos para tentar retirar os seus 50 cruzeiros, inclusive todos os senadores e deputados. Ninguém levantou a voz para protestar. Ninguém teve tempo para pensar no seu "impeachment". Os aposentados passavam tants horas nas filas para receber alguma coisa de sua aposentadoria que foram montados postos médicos nas agências da Caixa Federal e do Banco do Brasil.

Me lembro da Zélia, que um amigo meu que conheceu quando morava em Londres dizia que cheirava mal. E esse cheiro vinda da alma da cidadã. Quando as pessoas que tinham operações cirúrgica marcadas e não tinham acesso a seu próprio dinheiro perguntavam o que fazer, ela dizia: "Posponham". E quando as mulheres grávidas faziam a mesma pergunta, a resposta era a mesma pois esse era o chavão que ela usava para todas as perguntas que lhe eram feitas.

Anos depois encontrei a tipa nas ruas de Nova York, aonde tinha se refugiado e comprado um belo apartamento. Eu estava num táxi e só não sai para dizer umas verdades para a sem-vergonha porque a minha mulher me segurou.

Do dinheiro dos brasileiros que ficou bloqueado no Plano Cruzado, feitas as contas, só 40% voltou para os bolsos de seu legítimos donos.

Foi nesse momento, no Plano Cruzado, que eu desisti do Brasil. Em um país que se dizia democrático, ter sido feita essa violência dessas sem que ninguém se queixasse ou fizesse coisa alguma, eu não me sentia mais seguro. Emigrei para os Estados Unidos na primeira oportunidade que tive. Levei alguns anos me preparando e, em 1994, me mudei para Miami, onde ainda moro. E, cada vez mais, tenho certeza que para o Brasil eu não volto.

De lá para cá a concentração de renda chegou a níveis inimagináveis. A internacionalização da economia foi imensa. Ficamos reduzidos a dois bancos brasileiros de porte. Os juros que sistema bancário cobra fazem os agiotas de antigamente ficarem envergonhados. Mas os juros que pagam são uma piada.

Perdeu-se completamente o controle da violência e do crime, organizado ou não.

Fico pensando: Será que se eu fosse ainda empresário no Brasil e participasse da compra de regalias como todos os meu ex-colegas, (pois no Brasil quem não é freguês do governo passa apertado) eu estaria tão alienado como eles? Exibindo os meus ganhos na forma de mansões com altos muros e carros importados com preços superiores ao que a maioria dos brasileiros recebe em toda uma vida de trabalho honesto?

Prefiro pensar que não. Pelo menos não teria a insensibilidade social que eles demonstram.

Toda vez que eu paro em um sinal de trânsito e vejo o aumento de pessoas vendendo coisas e pedindo esmola, me sinto muito envergonhado. Envergonhado pela minha geração que não conseguiu construir nada de bom. Apenas destruiu a moralidade e fez do Estado brasileiro o alvo de sua ganância e o objeto de seu saque, com vistas ao enriquecimento fácil e, na maioria das vêzes, ilícito. O pouco de vergonha que sobrou após os anos da ditadura foi trocado por mais uma bolsa Louis Vitton e mais um Rolex de ouro.

No Brasil lulista, o lúpen-proletariado é a classe favorecida. Talvez por causa da origem dos membros do Congresso, da profissão das mães dos caros políticos, a profissão mais velha do mundo.

E quem paga a conta é a classe média, porque rico no Brasil é quem menos paga impostos no país. Como sonegar ou evitar pagar a mais do que o devido se o imposto é recolhido direto da fonte e, se ultrapassa o devido, leva anos para voltar para os bolsos das vítimas da violência fiscal, isso quando volta.

Para os súditos do Lula e da Dilma, boa sorte. Espero que consigam sobreviver a mais 4 anos de governo desse novo PT, que não é mais dos trabalhadores e não é mais da grande maioria dos seus fundadores.

Arquivo do blog