1/03/2011

Arquivo aberto: Diário de um sobrevivente


O meu primo Luiz Gornstein me mandou uma página escaneada do livro do jornalista José Carlos Bittencourt, cujo título eu uso como título deste post.

É interessante ver como o ex-governador paulista Martins tenta se colocar em conversas e fatos de que não fez parte.

No episódio das Obrigações estaduais, a história está pela metade e não se explica o que aconteceu exatamente.

Vamos aos fatos.

Em 1963, meu pai, José Adolpho da Silva Gordo era Presidente do Sindicato dos Bancos do Estado de São Paulo, órgão principal na representação dos bancos paulistas junto ao Sindicato dos Bancários e aos governos Federal, e Estadual. Nessa função ela falava por todos os bancos paulistas.

Quando os militares, o Lacerda (governador do Estado da Guanabara), o Adhemar (governador de São Paulo) e o Magalhães Pinto (governador de Minas Gerais e dono do Banco Nacional de Minas Gerais, que viria a falir no final do século XX, dando prejuízo imenso ao Governo Federal) resolveram dar o golpe de estado que chamariam de Revolução, surgiu um problema: como financiar o Governo Paulista com os antecedentes de desonestidade que cercavam o então governador Adhemar de Barros.

Em uma reunião que se realizou em nossa casa na Rua Atlântica, 318, em São Paulo, com a presença dos dirigentes dos 3 maiores jornais da época, vários banqueiros e pelo menos um deputado da UDN (Roberto de Abreu Sodré), ficou decidido que para que os jornais dessem cobertura e apoio à "Revolução", visto que as fontes de financiamento federal seriam congeladas, era necessário que os bancos paulistas suprissem a sua necessidade de capital de giro.

Outrossim ficou decidido que esse apoio seria extendido ao Governo Paulista desde que o Presidente do Sindicato dos Bancos, papai, ocupasse a Secretaria da Fazenda como uma espécie de interventor branco, que garantiria a continuação de Adhemar à frente do governo.

Assim sendo, papai assumiu a Secretária da Fazenda, não como um adhemarista ( o que nunca foi) mas como um representante dos bancos paulistas para garantir a probidade da gestão do Adhemar.

Para conseguir manter o controle sobre as finanças estaduais papai contava com o Presidente do Banco do Estado de São Paulo, Luiz Augusto Gomes de Mattos (esse sim adhemarista) e com a máquina da arrecadação paulista, que foi de uma lealdade inegualável para com o papai. Cada vez que se tentava passar algum financiamento ou negócio no Banespa, que cheirava mal ou tinha como origem o famigerado "Dr. Ruy", o Luiz Augusto avisava papai e ele vetava o negócio.

O Presidente Castello Branco quando caçou vários governadores brasileiros, pensou em caçar também o governador Adhemar de São Paulo. Mas, de acordo com o que havia sido estipulado, não poderia (ou deveria) fazê-lo enquanto papai estivesse à frente da Secretaria da Fazenda.

Em uma conversa com papai, Castello Branco colocou uma série de Ministérios para papai escolher que cargo ministerial seria de seu agrado. Papai como sempre muito leal e sempre tendo sido extremamente bem tratado pelo Adhemar, recusou e continuou na Secretaria.

No final de 1965, começo de 1966, Adhemar resolveu que seria necessário dispor de mais recursos para que pudesse terminar uma série de obras que vinha executando no estado, entre elas as hidroelétricas de Urupungá e Ilha Solteira e a Rodovia do Oeste (mais tarde Rodovia Castello Branco). Por isso foi decidido que o governo paulista iria lançar as ORTP (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Paulista). Papai era virtualmente contra o endividamento do estado e manteve um verdadeiro braço-de-ferro com o Adhemar.

Em 1966, cansado, depois de 3 anos de luta à frente da Secretaria da Fazenda, e necessitando tomar conta do Banco Português do Brasil, de sua propriedade, papai se demitiu do cargo de secretário.

Como Secretário Interino assumiu Dr. Luiz da Silveira Martins, oficial de cabinete de papai. Mal acabava de assumir, o Dr. Luiz passou a noite assinando ORTPs para que pudessem ser lançadas no mercado e, como havia sido determinado em 1963, uma semana depois o Adhemar foi caçado.

Durante os 3 anos que papai foi Secretário da Fazenda, eu trabalhei no seu gabinete e não me lembro de qualquer reunião que ela possa ter mantido com o Paulo Egydio. Mesmo porque o Paulo Egydio era ligado à diretoria do Banco do Commercio e Industria de São Paulo e as relações entre eles e papai era de inimizade, para se dizer o mínimo.

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