
Gostei de Berlim nesta minha (re)visita. Não a ponto de querer voltar ou coisa assim. Mas me senti um pouco em Buenos Aires e um pouco em São Paulo.
Os museus são maravilhosos.
A única excessão foi o Jewish Museum de Berlin. Com uma arquitetura bem moderna e pouco prática, o acervo do museu é ridículo. O pouco que tem (e é bem pouco mesmo) é reprodução. A gente se perde na visita porque a indicação do rumo a ser seguido é feita com umas bolas vermelhas no chão que se cruzam e se entrecruzam, deixando o visitante sem saber que direção seguir. É voltado a explicar como os judeus faziam parte de toda a trama da sociedade desde o século XI. O que não explica é porque continuaram na Alemanha (e Berlim) após inúmeras expulsões da todas as cidades alemãs no correr dos nove séculos que lá moraram.
Por outro lado, tem um museu que se chama Topografia do Terror que é o oposto. Foi construído no local aonde durante o IIIº Reich se localizava a Gestapo. O que sobrava dos prédios foi totalmente demolido. Hoje é um terreno plano coberto de pedras daquelas que se usam para fazer concreto, limitado por um lado por um pedaço do muro de Berlim e umas paredes que sobraram dos porões da QG da Gestapo, e com um prédio moderno minimalista quase no centro. Creio que a intensão é mostrar que no lugar aonde tanta crueldade existiu nada mais poderá crescer, que a maldade não será recriada.
A mostra conta a história das forças da repressão alemã desde a subida ao poder dos nazistas, passando pelas perseguições que foram feitas aos judeus, ciganos, homosexuais e eslavos, não somente no território alemão, mas em toda parte da Europa que foi dominada por eles no período da IIª Guerra Mundial. Não desculpa ninguém, mostrando a participação da população nas perseguições e a quase ausente punição dos culpados no fim da guerra. Vale a pena ser visitado.
O Pergamon Museum é uma maravilha. Faz muito tempo que eu não fico de boca aberta em um museu. No Pergamon eu fiquei. É um museu que ficou fora do alcance dos brasileiros por todo os anos da ditadura militar, quando não podíamos visitar os países da Cortina de Ferro. Não sei como funcionava nesse período. Só sei que começaram a reformar o conjunto do prédios, aonde funcionam o Pergamon Museum e o Neue Museum entre outros.
No Pergamon se encontram exemplos de arquitetura clássica grega e romana e da arquitetura das civilizações mesopotâmeas. Mas não um pedacinho de fachada ou uma estela. Lá se encontram fachadas inteiras de um templo dedicado a Palas Atena, com frisos, colunas , escadaria e arcos. Na parte romana, uma praça de um porto romano com um templo com colunas e escadas. Na parte mesopotâmica fachadas inteiras de fortes e palácios, com os leões alados e tudo. Cobertos por tijolos com um acabamento cerâmico na cor do lápis lazuli, mostram bem com a civilizações nessas paragens é antiga e, civilizadas. A Porta de Ishtar é espetacular.
O Neue Museum já foi reformado e o acervo está exposto de acordo com a nova museologia. Poucas peças, mas importantes e exemplares do período que se está tratando. Fácil de visitar, com uma visão clara do sujeito abordado, com as plaquinhas com a explicação das peças apresentadas bem visível e em alemão e inglês.
Visitamos ainda o Museu de Arte Contemporânea (que eu não recomendo) e o Neue National Gallery, aonde estão as pinturas alemãs da fase do pré-guerra. Aquelas que o ditador de plantão chamava de pintura degenerada. Foi dos que eu mais gostei. Com um prédio moderno do Mies van der Rohe totalmente vazio, o acervo do museu é mostrado no sub-solo. Não consegui entender bem aquele espaço enorme vazio, mas quem sou eu para julgar um arquiteto tão famoso?
Em suma, a parte monumental da cidade é linda, com uma arquitetura neo-clássica muito bem equilibrada. Os parques são vários e todos lindos. Os prédios da antiga Berlim Leste são horríveis. Mas no todo, uma cidade muito civilizada.