6/21/2010

Berlim 46 anos depois.




A única vez que estive em Berlim foi em 1964 com meu pai.

Papai era Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo do Governo Adhemar de Barros e foi chefiando uma delegação de empresários brasileiros (entre os quais o sogro do Maluf, o Fuad Lufttala) para uma feira de comércio internacional. Fomos hóspedes do governo alemão e ficamos hospedados em Wansee, numa casa que pertenceu ao Göering,m e que na época se chamava Litterarich Colloquium.

Papai foi o primeiro incentivador do comércio exterior naquele período, tendo permitido o abatimento do IVC (antigo imposto substituido pelo ICM) de produtos exportados. Essa medida depois foi copiada pelo Governo Federal.

A minha passagem foi paga por papai e não pelo Governo Paulista, apesar de eu estar trabalhando no Gabinete do Secretário.

Entre os destaques de minha estádia está uma noite na Berlin Philarmonic, assistindo O Pássaro de Fogo de Stravinski, regida pelo próprio. Esse teatro tem umas cadeiras de mesanino. São dois mesaninos, um de cada lado do palco. O espetacular é que se vê o maestro de frente e a orquestra de cima. Na primeira fileira, quase em baixo de nós se sentou o Presidente da RFD, cujo nome me escapa.

Stravinski entrou no palco quase que carregado por dois ajudantes e se postou na frente com a sua batuta, todo encolhido, todo curvado. A partir do primeiro acorde tudo mudou. Ele se esticou e regeu com uma força e uma energia inesperadas. Era como se tivesse remoçado 40 anos. Foi uma maravilha de concerto.

O segundo destaque, foi um jantar em um restaurante húngaro, logo depois do concerto. Eu de smoking, muito metido, papai, Luiz Carlos de Oliveira, advogado da SF com a esposa. Pedimos os pratos. Começamos com uma sopa, daquelas húngaras, bem pedaçuda. Na primeira colherada, o prato, que era um tripé, virou em cima de mim. A sopa era tão grossa que não deu jeito. Raspei o mais grosso e fui esperar no carro pelos outros. Chegando em nosso quarto no Litterarich Colloquium, tirei o meu smoking e coloquei no funda do saco de roupa suja e só fui ver o smoking de novo no Brasil. Não preciso dizer quão puto eu fiquei, né?

Berlim na época era dividido em dois, o muro ainda estava de pé e parecia que tinha vindo para ficar para sempre.

Nós brasileiros não podíamos visitar os países da chamada "Cortina de Ferro" e nossos passaportes tinham um carimbo imenso dizendo isso. Lógico que todos os brasileiros foram visitar Berlim Oriental. Era complicado. Tínhamos que ir de ônibus, todos juntos, nossos passaportes foram examinados por soldados alemães orientais, o que deixou todo mundo meio nervoso. Bobagem. O carimbo era em português e quem disse que alguém entende essa língua a não ser nós mesmos e os portugueses? Não carimbaram os passaportes, outro medo nosso. Demos uma volta por Berlim Oriental, sem parar em nenhum lugar, até chegarmos a um monumento ao soldado soviético desconhecido, morto na IIª Guerra Mundial.

Nele tinha um quiosque que vendia cigarros, cartões postais, refrigerantes, etc. Só recebiam marcos ocidentais (se tívessemos marcos orientais não podíamos usar). O câmbio era feito ao par, mesmo estando o cambio entre as duas moedas 4 por 1. Quatro marcos orientais por um ocidental. Não pude resistir em comprei cartões postais. Os cartões tinham que ser enviados dali mesmo, com selos comprados no quiosque e entregue em confiança para o encarregado. Até hoje, dos 12 cartões que mandei, não chegou nenhum.

Hoje à tarde vou encontrar uma Berlim totalmente mudada. O muro demolido e talvez alquele vendedor oriental tentando passar por honesto como seus irmãos ocidentais.

Depois eu comento.

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