5/17/2011

Dura Lex Sed Lex, no cabelo só Gumex.




Os Valle no apartamento da Rua Constante Ramos.











Lendo um post da Lita Ree (Rita Lee) no Twitte, aonde ela explicava para alguém o que era o Gumex, me lembrei que eu também já usei Gumex.

Eu passei as férias de julho de 1953 e 1954 no Rio de Janeiro, no apartamento de meus bisavós na Rua Constante Ramos, esquina com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana.

Quem me levou foi minha avó Aída, mãe de mamãe. Veraneando (ou invernando) no apartamento estavam vovô Valle, vovó Belita e minhas tias avós Candóca e Lucy. E um exército de empregados, entre eles a Clarice que tinha pageado um primo de mamãe, o Jorge.

Foi com as minhas tias, minha avó e minha bisavó que aprendi a jogar bem buraco.

O apartamento ficava no primeiro andar e eu ouvia o bonde passando embaixo de minha janela a noite toda.

Na rua de trás, Rua Domingos Ferreira, ficava a primeira lanchonete que eu visitei e que acabei freguês, o Bob's. Eu gostava do sorvete de baunilha de torneirinha. Só que nunca conseguia comer todo porque com o calor do Rio ele derretia todo e escorria pelo meu braço.

Eu ia também na Lojas Brasileiras na Nossa Senhora de Copacabana, que tinha uma lanchonete com um balcão em que serviam mixto-quentes e milk-shakes.

Outra coisa que eu gostava eram as uvas caramelizadas que vendiam numas cestas de vime pela avenida afora.

Minha tia Lucy, uma das 4 meninas, era, como a mais moça, a que me fazia mais companhia e me levava à praia e ao cinema.

O que me impressionou mais na tia Lucy era que indo descalça para a praia, ela não conseguia colocar o calcanhar no chão. Depois de uns quase 50 anos usando salto alto, o pé dela não conseguia mais ficar reto.

Tia Cy punha um pegnoir de seda oriental, preto com desenhos em beije e lá íamos nós para a praia. A boa praia de Copacabana, antes do alargamento da Avenida Atlântica, com a sua areia fininha e gostosa de pisar.

Outra coisa que eu me lembro dessas férias é que a plateia carioca ficava esperando as portas do cinema abrirem e saiam todos correndo como que enlouquecidos para conseguirem lugares melhores. Em São Paulo o público era mais comportado e eu nunca havia visto esses estouros de boiada.

Eu assisti no Rio ente outros filmes, O Ladrão de Bagdad, Marcelino Pão e Vinho e Sangue e Areias.

Foi na entrada do Ladrão de Bagdad que correndo no meio da multidão para não sermos pisoteados, tia Cy caiu sentada e a pressão da multidão era tanta que no que ela caiu, eu puxei ela pelo braço e continuamos a correr até acharmos uma poltrona. Levei o maior susto, imagino ela o susto que levou.

No Rio moravam minha tia Cecília (irmã de meu pai) com o marido tio Carlos e meu primo Carlos Eduardo, uns 3 anos mais moço do que eu. Eles moravam na Rua Domingos Ferreira mas mudaram para a Avenida Atlântica quase esquina com a Constante Ramos.

Um pouco mais a frente era a casa da prima de vovó, a Laurita, na esquina da Avenida Atlântica com a rua da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. Essa casa foi uma das últimas a ser demolida na Avenida Atlântica.

Na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Fernando Mendes, passavam as férias a quarta menina, minha tia-avó Norma com o marido, tio Cincinato, a filha deles Sarah e as netas Norminha e Cecília. Norminha e Cecília eram para mim o que havia de mais deslumbrante no Rio. Norminha, linda uns 4 anos mais velha do que eu era cheia de vida, ultra charmosa, em 1958 passou alguns meses com a família nos Estados Unidos, aonde estudou em Vassar. Eu babava atrás delas.

Mas voltando ao Gumex.

Nessas férias no Rio quem lavava minhas roupas, me penteava e me vestia era a Clarice. Só que ela exagerava na goma (que eu nunca tinha usado) que punha nas minhas camisas e eu ficava com o pescoço todo arranhado pelo atrito com a gola engomada. E no cabelo, ela punha uma tonelada de Gumex.

Não que alguma dessas duas coisas durasse até eu chegar na esquina. Com o calor, o suor da minha cabeça derretia todo o Gumex que escorria pela minha cara e a goma, com o suor do corpo amolecia toda.

Mas que ela tentava, ela tentava.

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