
Os Valle no apartamento da Rua Constante Ramos.
Lendo um post da Lita Ree (Rita Lee) no Twitte, aonde ela explicava para alguém o que era o Gumex, me lembrei que eu também já usei Gumex.
Eu passei as férias de julho de 1953 e 1954 no Rio de Janeiro, no apartamento de meus bisavós na Rua Constante Ramos, esquina com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Quem me levou foi minha avó Aída, mãe de mamãe. Veraneando (ou invernando) no apartamento estavam vovô Valle, vovó Belita e minhas tias avós Candóca e Lucy. E um exército de empregados, entre eles a Clarice que tinha pageado um primo de mamãe, o Jorge.
Foi com as minhas tias, minha avó e minha bisavó que aprendi a jogar bem buraco.
O apartamento ficava no primeiro andar e eu ouvia o bonde passando embaixo de minha janela a noite toda.
Na rua de trás, Rua Domingos Ferreira, ficava a primeira lanchonete que eu visitei e que acabei freguês, o Bob's. Eu gostava do sorvete de baunilha de torneirinha. Só que nunca conseguia comer todo porque com o calor do Rio ele derretia todo e escorria pelo meu braço.
Eu ia também na Lojas Brasileiras na Nossa Senhora de Copacabana, que tinha uma lanchonete com um balcão em que serviam mixto-quentes e milk-shakes.
Outra coisa que eu gostava eram as uvas caramelizadas que vendiam numas cestas de vime pela avenida afora.
Minha tia Lucy, uma das 4 meninas, era, como a mais moça, a que me fazia mais companhia e me levava à praia e ao cinema.
O que me impressionou mais na tia Lucy era que indo descalça para a praia, ela não conseguia colocar o calcanhar no chão. Depois de uns quase 50 anos usando salto alto, o pé dela não conseguia mais ficar reto.
Tia Cy punha um pegnoir de seda oriental, preto com desenhos em beije e lá íamos nós para a praia. A boa praia de Copacabana, antes do alargamento da Avenida Atlântica, com a sua areia fininha e gostosa de pisar.
Outra coisa que eu me lembro dessas férias é que a plateia carioca ficava esperando as portas do cinema abrirem e saiam todos correndo como que enlouquecidos para conseguirem lugares melhores. Em São Paulo o público era mais comportado e eu nunca havia visto esses estouros de boiada.
Eu assisti no Rio ente outros filmes, O Ladrão de Bagdad, Marcelino Pão e Vinho e Sangue e Areias.
Foi na entrada do Ladrão de Bagdad que correndo no meio da multidão para não sermos pisoteados, tia Cy caiu sentada e a pressão da multidão era tanta que no que ela caiu, eu puxei ela pelo braço e continuamos a correr até acharmos uma poltrona. Levei o maior susto, imagino ela o susto que levou.
No Rio moravam minha tia Cecília (irmã de meu pai) com o marido tio Carlos e meu primo Carlos Eduardo, uns 3 anos mais moço do que eu. Eles moravam na Rua Domingos Ferreira mas mudaram para a Avenida Atlântica quase esquina com a Constante Ramos.
Um pouco mais a frente era a casa da prima de vovó, a Laurita, na esquina da Avenida Atlântica com a rua da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. Essa casa foi uma das últimas a ser demolida na Avenida Atlântica.
Na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Fernando Mendes, passavam as férias a quarta menina, minha tia-avó Norma com o marido, tio Cincinato, a filha deles Sarah e as netas Norminha e Cecília. Norminha e Cecília eram para mim o que havia de mais deslumbrante no Rio. Norminha, linda uns 4 anos mais velha do que eu era cheia de vida, ultra charmosa, em 1958 passou alguns meses com a família nos Estados Unidos, aonde estudou em Vassar. Eu babava atrás delas.
Mas voltando ao Gumex.
Nessas férias no Rio quem lavava minhas roupas, me penteava e me vestia era a Clarice. Só que ela exagerava na goma (que eu nunca tinha usado) que punha nas minhas camisas e eu ficava com o pescoço todo arranhado pelo atrito com a gola engomada. E no cabelo, ela punha uma tonelada de Gumex.
Não que alguma dessas duas coisas durasse até eu chegar na esquina. Com o calor, o suor da minha cabeça derretia todo o Gumex que escorria pela minha cara e a goma, com o suor do corpo amolecia toda.
Mas que ela tentava, ela tentava.